Quem lê livros vê corações? Uma tese de mestrado da NOVA FCSH revela os hábitos de leitura de 16 bibliotecários da Rede Municipal Bibliotecas de Lisboa (RMBL). Muitos destes profissionais da informação preferem comprar livros em vez de os requisitar.
O bibliotecário é um “profissional da informação” porque “lida diariamente com a leitura no que respeita ao ato de ler.” Quem o diz é Ana Rita Marques, na tese de mestrado (2012) em Ciências da Informação e Documentação da NOVA FCSH, onde explora a importância das leituras dos profissionais que trabalham na Rede Municipal Bibliotecas de Lisboa (RMBL) para a sua profissão. Tal é relevante porque “dada a especificidade e constante evolução da Ciência da Informação, estes profissionais devem manter-se atualizados, com vista a um melhor desempenho profissional”.
A autora fez 16 entrevistas, uma a cada funcionário da respetiva biblioteca dentro da rede. Uma das conclusões a que chegou foi a de que cinco dos funcionários não mencionaram, especificamente, o gosto pela leitura nas entrevistas, apesar de ser a sua profissão. Apesar disso, a maior parte dos inquiridos lê porque isso lhes transmite conhecimento e ferramentas para o seu próprio desenvolvimento pessoal e profissional. Nas horas de lazer, e em menor percentagem, alguns bibliotecários leem por prazer “encontrando na leitura uma forma de evasão e de ocupação de tempos livres que lhes proporciona bem-estar”, escreve a investigadora.
Sentir o cheiro das páginas que ainda não estão desgastadas pode ser aliciante e um motivo para comprar um livro. Ou para sentir que aquele objeto está na posse do seu comprador, numa biblioteca particular. É o que acontece, também, com os bibliotecários, em que a maioria afirma comprar livros em vez de os requisitar. Para a autora, foi “uma surpresa verificar que a grande maioria opta pela aquisição [de livros]”.
Por outro lado, mais de metade dos entrevistados afirma ter disponibilidade para ler com frequência, um “hábito diário” que adquiriram, mesmo fora de serviço. Os restantes bibliotecários referem que não leem tanto quanto gostariam, mesmo em período de férias, devido, em alguns casos, aos filhos.
Estes bibliotecários apresentam-se, assim, como “agentes culturais, profissionais polivalentes qualificados e promotores da leitura” que “possuem competências para considerar as oportunidades do meio envolvente a seu favor, podendo apresentar propostas construtivas no sentido de adaptar as condições de trabalho a necessidades reais no que respeita às suas leituras para fins profissionais”. Apesar da falta de tempo ser um dos argumentos apontados pelos entrevistados, a autora conclui que os 16 bibliotecários têm hábitos de leitura que vão ao encontro das necessidades da comunidade onde a respetiva biblioteca se insere.
A Rede Municipal Bibliotecas de Lisboa é composta por 16 bibliotecas que prestam diversos serviços: leitura e empréstimo de documentos; leitura em suportes especiais como a impressão de documentos em Braille e a digitalização dos mesmos; atividades de promoção de leitura; visitas guiadas às bibliotecas Municipais de Lisboa (BLX); e ainda o BookCroissing, uma espécie de biblioteca online de partilha de livros.