Em 1960, Marvila era local de indústria e residência de famílias operárias, que migravam dos campos. Hoje, a sua descaracterização e desvalorização face ao potencial cultural e humano da cidade de Lisboa são reveladoras de “um incerto fado urbano”.
A expressão é de João Pedro Nunes, investigador da NOVA FCSH, e Ágata Sequeira, que analisam neste artigo uma das mais antigas zonas industriais e operárias de Lisboa: Marvila. A concentração do trabalho industrial e a elevada densidade operária, características da zona durante grande parte do século XX, diminuem significativamente no último quartel, acompanhando o declínio industrial de Lisboa. A Marvila ribeirinha é votada ao abandono, sem um plano de reconversão e recuperação, e as suas colinas são ocupadas por alguns dos maiores bairros de habitação pública da capital.
Estruturas como o programa Viver Marvila, ações de revitalização cultural e artística, como Lisboa Capital do Nada, promovida em 2001, e a reconversão da Fábrica de Braço de Prata levam os investigadores a considerar que o “fado” de Marvila poderá compor-se através do património edificado existente e da sua reconversão em espaços criativos e culturais.
Falta saber como é que a herança industrial e operária poderá fazer parte da memória coletiva de Marvila: “o sentimento nostálgico que os edifícios das antigas fábricas a que o trabalho e o movimento que deram vida àquele território evocam aos ‘resistentes’ de Marvila é reflexo de uma passiva contemplação sobre um passado que já não existe”, concluem os investigadores.
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