Um roteiro arqueológico para crianças em Alfama

Três lugares de Alfama são o itinerário escolhido para serem descobertos por crianças. Explicar a importância da arqueologia em contexto real é a proposta de um projeto de Mestrado em Práticas Culturais para Municípios da NOVA FCSH.

O restaurante Páteo de Alfama, a Torre de semi-circular da Muralha Tardo-Romana e os sanitários públicos no Largo da Sé são os três locais escolhidos por Maria Inês Noivo para um roteiro dedicado a crianças do primeiro ciclo do ensino básico. A proposta, feita no projeto de Mestrado (2010) em Práticas Culturais para Municípios da NOVA FCSH, realça a importância da aprendizagem da arqueologia no exterior e em contacto com os locais e objetos. O Serviço de Arqueologia do Museu da Cidade colaborou com a autora na proposta do itinerário, e “a escolha destes três locais teve em consideração os bons acessos de que dispõem”.

Mas o que têm de especial estes sítios? A primeira paragem, o restaurante Páteo de Alfama, tem a particularidade de ter uma “parede” que é, nada mais nada menos, do que parte da Cerca Velha. Durante as intervenções no edifício, que começaram em 2006 e foram concluídas no início de 2007, recolheram-se objetos dos séculos II a XX. “A integração da muralha no restaurante partiu de uma proposta dos arqueólogos do Museu da Cidade – o troço de muralha ficaria visível, acompanhado de um texto informativo”, aponta a autora. A entrada no restaurante é permitida a não clientes, para se poder observar os materiais encontrados.

A segunda paragem é a Torre semi-circular da Muralha Tardo-Romana, que recorda os séculos III e V. Com cinco metros de espessura, é um sinal da defesa da cidade. A intervenção feita na Rua de São João da Praça, em 2001, foi realizada para remodelar infraestruturas incorporadas no projeto de segurança do Chafariz d’el Rei. Pela segunda vez em Lisboa, é descoberta parte desta muralha: a primeira vez tinha sido na Casa dos Bicos, entre 1981 e 1982. Neste troço de muralha conjetura-se que existia “uma porta, identificada em período islâmico (século XI) como Porta de Alfama (Bâb al-Hamma / Porta dos Banhos)”, ou seja, a porta para as termas de Alfama.

Ter contacto com destroços do terramoto de 1755 é ainda possível. E nesta terceira e última paragem que a visita termina, nos sanitários públicos do Largo da Sé de Lisboa. Quando a Junta de Freguesia da Sé começou as intervenções, em 1994, foram encontrados vestígios dos séculos XVI e XVII, nomeadamente cerâmicas e madeiras queimadas que remetem para o terramoto de 1755.

Descobriu-se ainda uma parede em bom estado de conservação “pelo que surgiu a ideia de preservar a estrutura e integrá-la na nova construção”. Estes achados permitiram ainda identificar o que pareceu ser a fachada principal de uma habitação desta época, destruídos posteriormente: “De forma a ilustrar a dimensão do cataclismo que assolou Lisboa em 1755, foram mantidos os entulhos que preencheram, até à data da intervenção arqueológica, no vão da porta”.

A escolha deste local pretende  que as crianças vejam que, atualmente, esta instalação se encontra numa cota mais elevada do que à época do abalo sísmico. Este roteiro por Alfama arqueológica, indica Maria Inês Noivo, não excede mais de hora e meia de duração.

Fotografia: Vista sobre Alfama. 

Escrito por
Ana Sofia Paiva
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