Foi a primeira mulher a exercer a profissão de jornalista em Portugal. Integrou as redações de dois influentes jornais lisboetas e fez parte do primeiro movimento feminista português. O seu legado permanece numa rua de Belém, como símbolo de jornalismo, liberdade e igualdade no feminino.
No princípio do século XX já algumas mulheres portuguesas tinham abraçado o jornalismo, mas não da forma como se entende hoje a profissão. Virgínia Quaresma (1882-1973) deixou de lado os artigos de opinião e os jornais de orientação literária e dedicou-se ao género nobre do jornalismo – a reportagem, principalmente política – em dois jornais lisboetas de referência: O Século e A Capital, no Bairro Alto. É, por isso, considerada a primeira jornalista portuguesa.
Antes de trabalhar naqueles dois jornais de informação geral, tinha sido redatora principal da revista Alma Feminina, entre 1907 e 1908, e integrado a secção feminista da Liga Portuguesa da Paz, criada em 1906. Foi uma das primeiras mulheres a licenciar-se na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Embora apologista do regime republicano, Virgínia Quaresma não fez parte da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, fundada em 1908, por querer separar o exercício do jornalismo da intervenção política. Considerava, contudo, que ser jornalista “era uma forma de intervenção na causa pública”, salienta Isabel Lousada, investigadora do CICS.NOVA da NOVA FCSH, no artigo “Feminismo en la voz de una periodista feminista” (2014).
Para Virgínia Quaresma, o feminismo era uma consequência lógica do progresso da humanidade, e o jornalismo foi, assumidamente, um veículo para dar voz à causa feminista.
Num dos seus textos emblemáticos, intitulado “Feminismo”, escrito ainda no período monárquico, subscreveu o princípio da igualdade social, jurídica e política entre homens e mulheres, sem o qual a Humanidade não poderia evoluir. Criticou a separação por sexo nas escolas públicas e incentivou as mulheres a ingressar no ensino superior e na atividade jornalística. Alertou ainda a sociedade para o índice de analfabetismo em Portugal na crónica “O que pode e deve ser o feminismo em Portugal em face de 2406245 mulheres analfabetas”. A repórter que fez a cobertura de acontecimentos que envolviam casos de violência doméstica no feminino foi também a ativista na luta por essas mulheres.
Após a Implantação da República, rumou ao Brasil onde continuou a trabalhar como repórter. No seu regresso, foi diretora da sucursal lisboeta da Agência Americana de Notícias. Quinze anos depois da sua morte, em 1973 – já não presenciou a Revolução de 25 de abril – a cidade homenageou-a, dando o seu nome a uma rua, em Belém, no Bairro de Caselas.