Sabia que a Rua do Comércio foi uma das ruas que sobreviveram parcialmente ao terramoto de 1755? E que antes desta catástrofe era um dos pólos económicos da cidade? Uma investigação arqueológica revelou esta história de Lisboa.
Rua do Comércio, nº1 a 13. Este é o sítio onde ainda há histórias por contar e que arqueólogos, entre eles Márcio Martingil, do Instituto de Arqueologia e Paleociências (IAP) da NOVA FCSH, “desenterraram” e colocaram por escrito no I Encontro de Arqueologia de Lisboa (2015).
Antes do terramoto de 1755, o traçado da baixa da capital era islâmico, com ruas e becos estreitos. A Rua do Comércio, no reinado de D. Dinis, era conhecida por Rua Nova de El-rei que, mais tarde no século XIV, passou a ser denominada de Rua Nova dos Mercadores. Contudo, os arqueólogos encontraram evidências que em 1392 também nesta rua se encontrava o Largo do Pelourinho.
“Assim surge o Largo do Pelourinho, como parte constituinte do centro económico, no qual se localizam as seguintes instituições: a Alfândega Velha, a Casa dos Contos e a Casa do Peso; mas igualmente camarária, com os Paços do Concelho, junto do largo e da Rua Nova”, referem os investigadores.
Mais tarde, foi denominada por Largo do Pelourinho Velho, sem se conhecer, até ao presente, mais pelourinhos em Lisboa. Com o passar das décadas, este centro começou a perder notoriedade em detrimento de outros espaços, como o Terreiro do Paço. A antiga casa aduaneira foi transferida em 1526, apontam os investigadores, e “a Casa dos Contos, pertença do rei, são vendidas em 1562 a D. Gilyans da Costa”.
Apesar da queda da sua importância, nem o terramoto de 1755 conseguiu destruir a calçada do Largo do Pelourinho Velho. Porém, esta “sorte” tinha um reverso: a cidade ganhou uma oportunidade de se reconstruir com um traçado diferente do islâmico, mas o seu “«lugar» dentro do novo projecto urbanístico da Baixa pombalina” passou a servir “de base de assentamento do novo edifício pombalino”.
Este edifício com a traça da Lisboa reconstruída, no século XX, era o local de diversas sociedades e firmas industriais, como o Grémio dos Armazenistas de vinhos ou a Sociedade Portugueza de Seguros. Com o passar dos anos, especialmente na década de 1960, o edifício encontrava-se praticamente inabitado, devido ao seu mau estado de conservação.
Acabou por ruir parcialmente nos anos 90, o que levou à demolição do seu interior em 2006, mantendo-se apenas as fachadas. Os vestígios remanescentes encontrados no local permitiram aos arqueólogos descobrir aqueles que julgam ser “uma porção do antigo largo do Pelourinho (Velho)”.
Atualmente, o único Pelourinho de Lisboa encontra-se na Praça do Município, na freguesia de Santa Maria Maior, e é Monumento Nacional desde 1910.
Fotografia: Rua do Comércio na década de 1970 ( Obra 8839; Volume 3 ; Processo 51076/DAG/ PG/1985 – Tomo 1; Página 9), retirada do artigo.