Diogo Alves: o galego que fez do Aqueduto um cenário de homicídios em série

Há quem diga que atirou 70 pessoas do Aqueduto das Águas Livres, que a bebida e o vício o levaram a cometer assaltos grotescos e ou que era simplesmente louco. De qualquer das formas, o “Pancada” ficou para a história como um dos maiores criminosos de Lisboa do século XIX.

O “Pancada” foi a alcunha dada a Diogo Alves, um homicida celebrizado pela opinião popular. Nascido na Galiza,  terá chegado a Lisboa ainda na sua juventude. Começou como criado, mas chegou à posição de boleeiro, tratando de cavalos em várias casas senhoriais e ganhando a confiança dos seus patrões, que chegaram a emprestar-lhe largas quantias de dinheiro. Quem não tinha fama de ser uma boa influência era a sua companheira Gertrudes Maria, a “Parreirinha”, que, com a ajuda do jogo, das apostas em corridas de cavalo e o álcool, encaminhou o “Pancada” por caminhos menos nobres.

Embora não fosse português, ficou guardado na memória popular como uma figura imponente no quadro dos grandes criminosos lusitanos, afirma Graça Pacheco, na sua tese de doutoramento em Estudos Portugueses da NOVA FCSH,  intitulada “Criminosos popularizados na narrativa de divulgação (De 1838 aos Alvores da República)” (2015). A investigadora menciona o “véu de mistério em torno de alguns feitos particularmente escabrosos” em que se inserem os assassinatos das Águas Livres. Acredita-se que Diogo Alves atirava os indivíduos que assaltava das galerias do Aqueduto das Águas Livres, para que não pudessem denunciá-lo. O número de vítimas é incerto, uma vez que se associaram estes repetidos acontecimentos a uma vaga de suicídios; no entanto, pensa-se que ultrapassaram as 70 mortes.

Apesar de ser o seu crime mais reconhecível, não foi pelos assassinatos das Águas Livres que Diogo Alves foi condenado à morte em 1840, fazendo dele o último indivíduo com esta sentença em Portugal. Foi, sim, um assalto à casa do médico Pedro de Andrade que desembocou no massacre da sua família.

A cabeça do criminoso foi estudada por cientistas da Escola Médico Cirúrgica de Lisboa, com o intuito de chegar a possíveis causas da sua crueldade, mas não teve frutos. Continua, no entanto, conservada na Faculdade de Medicina de Lisboa até hoje.

Vários autores se agarraram aos mitos de rua de criminosos como Diogo Alves, e criaram as suas próprias narrativas, apropriando-se de relatos orais e incorporando diversas fontes de conhecimento dos crimes. Graça Pacheco alerta a importância de confirmar e distinguir o que são fontes teórico-científicas e judiciais e quais são as fontes baseadas em rumores públicos: “Os autores das ficções raramente explicitaram de forma rigorosa as fontes impressas utilizadas; tão pouco referiram os instrumentos de pesquisa ou de consulta”.

Textos como a obra de ficção “Vida, e Morte de Diogo Alves” de Francisco Leite Bastos, “Supplicio de Diogo Alves: Canto em Verso Heroico” de António Manoel Terras e “Historia Verdadeira e Completa do Celebre Ladrão Diogo Alves” de Francisco Silva foram algumas das obras que recriaram a figura de Diogo Alves e que Graça Pacheco utilizou para estudar a popularização de criminosos na sua tese e doutoramento.

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Beatriz do Ó e Joana Ribeiro
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