Viver em palácios: do ordinário ao extraordinário

Entre salões, quartos reais, bibliotecas e pátios, as várias divisões de um palácio contam as experiências de quem lá habitou. São estórias da dimensão palaciana de Lisboa na primeira metade do século XVIII que uma dissertação de mestrado da NOVA FCSH dá a conhecer.

Palácio. Um edifício encarado como grandioso, cristalizado e intacto ao longo do tempo, onde hoje pouco acontece, foi outrora palco das mais variadas e estimulantes vivências. “Pensar no palácio como o lugar onde habita uma família, é desde logo neste período, pensar em casas cheias de vida, de história e de memória, e em lugares de conflitos, de frustrações ou de alegrias”, descreve Pedro Lopes Miguel na sua tese em História Moderna e dos Descobrimentos (2012) da NOVA FCSH.

Cada palácio tem a sua história pessoal. O Largo do Chiado contempla um dos edifícios que mais presenciaram os frutos da fertilidade, o Palácio do Loreto, que viu nascer e crescer 17 filhos da Condessa de Santiago. Contudo, não só de pequenos condes e condessas se enchia o palácio; também os criados tinham aquele lugar como o seu lar. O palácio dava também lugar a cerimónias fúnebres, acompanhando os seus titulares desde o primeiro choro ao último suspiro.

Contudo, nem todos permaneciam no edifício até ao final da sua vida. É o caso das herdeiras que, por uma “união espiritual das casas”, acompanhavam os seus maridos e constituíam família longe do lugar que as viu nascer. Assim, “o palácio era também o lugar onde se jogavam alianças” e os casamentos, os batismos, os crismas e aniversários eram o pretexto para grandes cerimónias, que mostravam a grandeza da família.

O investigador relembra a grandiosidade do festim de D. Tomás de Almeida quando foi nomeado Patriarca, que chegou a ser notícia numa publicação da Gazeta de Lisboa em 1716, onde refere que se utilizou “iluminação de mais de oyto mil luzes, & muyto fogo artificial”. Por sua vez, o Barão de Batevilla, embaixador de Castela em Portugal, chegou mesmo a alugar um segundo palácio para apresentar as comédias de que era mecenas.

O palácio era igualmente um espaço de saber e de cultura, que acompanhava a inovação. As livrarias enchiam-se de obras e manuscritos antigos e o cartório guardava a história da casa, com “um mundo de documentação, contratos de casamento, dotes e arras, testamentos, aforamentos”.

A arte era outra das facetas peculiares destes edifícios: “Aí se reuniam numerosas obras de arte de artistas portugueses ou estrangeiros, nos mais variados formatos, quer no interior dos palácios, quer nos seus jardins”, aponta o investigador. Seja por adereço seja por admiração, os palácios estavam repletos de “verdadeiros tesouros” materiais e imateriais, confinados a quatro paredes luxuosas.

Fotografia: Palácio do Loreto no Largo do Chiado, entre a Rua Paiva de Andrade e a Rua António Maria Cardoso (1914). Joshua Benoiel, Arquivo Fotográfico de Lisboa

Escrito por
Bruna Ferreira e Diana Nóbrega
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