Campo Mártires da Pátria, epicentro da saúde em Lisboa desde 1755

Sabia que a zona envolvente do Campo Mártires da Pátria não foi prejudicada pelo terramoto de 1755? Este acontecimento mudou a face da Colina de Santana transformando-a na “Colina da Saúde”, refere uma investigadora da NOVA FCSH.

A Colina de Santana foi das poucas que não foram prejudicadas pelo terramoto de 1755, e é hoje apelidada de “Colina da Saúde” porque foi o “outeiro de velhos conventos transformados em Hospitais perante o desafio de passarem a ter usos”, explica Maria de Fátima Nunes, investigadora do Instituto de História Contemporânea (IHC) da NOVA FCSH, no artigo (2020) onde propõe uma reflexão cultural e científica para descobrir o Campo Mártires da Pátria, na freguesia de Arroios.

O Campo Mártires da Pátria, também conhecido como Campo Santana, é hoje um lugar rodeado pelos Hospitais dos Capuchos, de Santa Marta, de São José e de D. Estefânia e pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, edifício onde antes se ergueu a praça de touros de Santana e a Escola Médico Cirúrgica de Lisboa. Mas não existe coincidência para a proximidade destes edifícios dedicados à saúde: todos têm em comum o grande terramoto de Lisboa e acontecimentos históricos relacionados com a vida e com a morte.

Em 1755, a Colina de Santana foi essencial para “cuidar dos vivos” no Colégio de Santo Antão (conhecido pelo ensino de Astronomia e de Matemática na famosa “Aula Esfera”) hoje Hospital de S. José. Dado que o Hospital Real de Todos os Santos foi destruído, toda a parte da colina de Santana ficou encarregue de centrar os cuidados de saúde necessários à população. Nas artes, indica Maria de Fátima Nunes, este acontecimento motivou Voltaire a escrever o poema “Poème Sur Le Désastre de Lisbonne”.

Já no século XIX, percebeu-se pelos contributos de arqueologia que o Convento de Sant’Ana era lugar de luxo e aceitava freiras de classes sociais altas e elitistas, ordem que em 1884 se extinguiu, quando morre a última monja. Nesse mesmo edifício, oito anos mais tarde, nasceu o Instituto Bacteriológico de Lisboa, hoje conhecido como o Instituto Bacteriológico Câmara Pestana, edifício que passou a ser vizinho da Escola Médico Cirúrgica de Lisboa, inaugurada anos mais tarde, na viragem para o século XX.

O XV Congresso Internacional de Medicina foi o primeiro acontecimento na Escola Médico Cirúrgica de Lisboa, importante para a afirmação do país na Medicina: “Os esforços de diplomacia científica levados a cabo por Miguel Bombarda, no seio da comunidade médica internacional foram coroados de êxito, uma vez que o Congresso teve lugar em Portugal, em espaço próprio, inaugurado para o acolher”, aponta a investigadora.

Este campo também albergou os espaços ajardinados e o edifício do Ministério da Instrução Pública, mais tarde substituídos pelo Ministério da Educação Nacional, em 1936. Ainda no lugar, “frente ao lago, o espaço do Instituto Alemão, paredes de vizinhança com o Patriarcado de Lisboa, e outras vivências culturais, científica e ideológicas dos anos 30 do século XX” se sentiaram naquele espaço.

Quase todos estes edifícios têm em comum a vida e a morte, e foi precisamente a morte que voltou a batizar o Campo de Santana, em homenagem ao General Gomes Freire de Andrade e aos companheiros que perderam a vida queimados na fogueira. Este acontecimento ficou eternizado no livro “Felizmente Há Luar”, de Luis Sttau Monteiro, símbolo da luta pela Pátria.

Na placa colocada pela Câmara Municipal de Lisboa, no centenário do acontecimento, lê-se que a homenagem é feita “aos heroicos companheiros do General Gomes Freire de Andrade” que lutaram até ao fim pela liberdade. Até aos dias de hoje, continuam a merecer um lugar de reconhecimento no centro de Lisboa.

Fotografia de destaque: NOVA Medical School no Campo Mártires da Pátria.

Escrito por
Ana Sofia Paiva
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