Chama-se “Projecções de Lisboa – utopias e estratégias para uma Cidade em movimento perpétuo”, é coordenado por João Seixas, investigador da NOVA FCSH, e surge da necessidade de a Universidade “não apenas ver passar o barco, mas ajudar a orientá-lo”.
Passar os olhos pelo índice do livro que chegou às prateleiras das livrarias no final de 2018 é revisitar “Lisboa quinhentista”, “Lisboa da Regeneração”, “Lisboa da Transição Democrática” e outras faces da cidade já com um pé no futuro, como o de “Lisboa desdobrada”, assinado pelo próprio coordenador da obra, João Seixas, investigador e professor do Departamento de Geografia da NOVA FCSH.
O título e a capa são uma provocação. “Uma provocação séria, política”, afirma João Seixas. O rosto do livro é uma fotografia de Nuno Cera – é literalmente ver Lisboa a partir de um quarto dos últimos andares do Sheraton, na Rua Latino Coelho. O título tem o toque do humanista Thomas More e do guitarrista Carlos Paredes.
“Projecções de Lisboa – utopias e estratégias para uma sociedade em movimento perpétuo” (Caleidoscópio e CML, 2018) pensa o futuro de Lisboa, desde o século XVI até à atualidade. “O objetivo era pensar 500 anos de utopias em Lisboa”, explica João Seixas, mas o tempo traiu o livro e não conseguiu sair no ano do 500º aniversário da publicação da Utopia de Thomas More em Portugal. Já a última parte do título segue o ritmo do álbum de Carlos Paredes, “Movimento Perpétuo”, lançado em 1971.
A guitarra portuguesa marca a evolução arrítmica da cidade de Lisboa, segundo o investigador. “Neste momento estamos num free jazz intenso” e – salienta – “como estamos a mudar muito depressa, precisamos urgentemente de repensar o que queremos para a cidade de Lisboa”.
As alterações climáticas, a crise profunda na habitação, a desregulação dos mercados financeiros e a incapacidade de a política regulá-los convenientemente leva, segundo o investigador, a “uma crescente desigualdade na transferência dos direitos da economia e da sociedade para uma maior coesão social”.
Hoje, as questões urbanas “tornaram-se questões de civilização” e é essencial que as cidades se tornem sustentáveis a nível ecológico, mas também social, avança. E a capital tem um papel a desempenhar no futuro da humanidade: “Lisboa não é periférica a todas as grandes questões que passam em Nova Iorque ou em Moscovo”.
O livro tem, acima de tudo, uma mensagem política: “Todo o projeto cultural é político”, afirma. O último capítulo, escrito por Nuno Artur Silva e António Jorge Gonçalves, intitulado “É na cidade que existe que existe a cidade que não existe” pode parecer um paradoxo, mas usando a frase de André Breton – “O imaginário é aquilo que tende a ser real” – João Seixas é claro na mensagem; acredita que Lisboa tem um futuro promissor, mas não sabe “quanto sangue, suor e lágrimas vão acontecer até lá”. É por isso que, hoje, a Universidade tem um papel fundamental: “não penas ver passar o barco, mas ajudar a orientá-lo”.